Lula intensifica programas sociais e amplia defesa da justiça tributária
Brasil 247 - Governo aposta em medidas sociais e retórica nacionalista para ampliar apoio popular diante do tarifaço dos eua e do cenário político interno.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensifica a implementação de programas sociais e reforça um discurso centrado na justiça tributária para capitalizar o crescimento recente em sua popularidade. Conforme reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a gestão petista acelerou o lançamento de iniciativas voltadas a famílias de baixa renda, ao mesmo tempo em que Lula tem ampliado sua presença junto à população, utilizando a retórica da soberania nacional como resposta ao aumento de tarifas sobre produtos brasileiros imposto pelos Estados Unidos.
Entre as ações prioritárias estão o programa Gás para Todos, que visa distribuir botijões de gás para famílias carentes; o Luz do Povo, que concede isenção ou descontos na conta de luz; e o Agora tem Especialistas, focado na redução das filas de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). O lançamento do Gás para Todos está previsto para este mês, via Medida Provisória, enquanto as demais iniciativas já contam com MPs publicadas. Além disso, o governo prepara novas linhas de crédito para pequenas reformas em residências e financiamentos para compra de veículos por trabalhadores de aplicativos.
Em paralelo ao atendimento às camadas mais vulneráveis, o governo também mira a classe média, com projeto de lei para isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e a criação de uma faixa do programa Minha Casa Minha Vida para famílias com renda de até R$ 12 mil. A proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública completa o pacote de medidas que o PT debateu em encontro nacional com sua bancada no Congresso.
Um ministro do governo, que falou sob condição de anonimato à reportagem, explicou que a estratégia do Palácio do Planalto é aproveitar a recuperação da popularidade para entregar resultados concretos à população. “Entramos numa nova fase após a crise do IOF, em que o governo conseguiu emplacar o discurso de justiça tributária nas redes, centrado na ideia de ‘ricos versus pobres’”, afirmou.
O mesmo interlocutor destacou que a sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, acabou fortalecendo o governo Lula, impulsionando sua narrativa nacionalista e social. Pesquisa Genial/Quaest realizada logo após o anúncio do tarifaço mostra que a reprovação ao governo caiu de 57% para 53%, enquanto a aprovação subiu de 40% para 43%.
Após uma agenda internacional intensa entre maio e junho, Lula tem priorizado compromissos com participação popular. Em julho, o presidente compareceu a nove eventos públicos, o maior número desde o início do ano, incluindo visitas às comunidades do Moinho, no centro de São Paulo, e do Jardim Rochdale, em Osasco, onde conversou diretamente com moradores.
Em São João da Barra (RJ), Lula reforçou sua defesa da justiça tributária: “Quem ganha R$ 1 milhão por ano vai pagar um pouquinho para a gente fazer com que as pessoas que ganham menos não pagam. Como se chama isso, aumento de imposto? Não, se chama justiça tributária. É isso que estamos fazendo, e por isso tem algumas pessoas chiando”, declarou.
O governo também adotou símbolos tradicionalmente ligados ao bolsonarismo — como a bandeira do Brasil e os núcleos verde e amarelo — para confrontar a narrativa nacionalista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Lula chama de “traidor da pátria”. Essa mudança busca desvincular a comunicação oficial da imagem associada ao Centrão, especialmente após derrotas recentes no Congresso.
Para o cientista político e professor da FGV Marco Teixeira, as iniciativas reforçam a identidade de um governo de esquerda, recuperando elementos das gestões anteriores de Lula. “Talvez seja isso o que hoje diferencia a esquerda da direita. E esse movimento ocorre em um bom momento para o governo, pois ajuda a demarcar ainda mais sua posição”, avaliou.
Teixeira acrescentou que o governo se beneficiou indiretamente das tensões provocadas pelo tarifaço e pela atuação do deputado Eduardo Bolsonaro, que ajudaram a forçar uma maior unidade no Congresso contra a oposição mais barulhenta. “O governo vive uma espécie de tempestade perfeita, só que favorece a ele”, disse.
A cientista política Lara Mesquita, também da FGV, apontou que o discurso de Lula impõe um custo político alto ao Legislativo. “Se o Congresso derrubar esses programas, reforça-se a imagem de um Executivo que defende os pobres contra um Legislativo alinhado aos interesses dos ricos. Mas me parece pouco provável que os parlamentares optem por esse caminho, dado o ônus em termos de imagem pública.”
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