Policial militar, guarda civil e pastor: os rostos por trás da célula do Comando Vermelho em SP


 Metrópoles -  Cabo da ativa da PM paulista coordenava homicídios no interior do estado, onde mantinha célula aliada ao CV e ao Bando do Magrelo.

Um inquérito da Delegacia de Investigações Gerais de Limeira (DIG), no interior paulista, identificou a relação entre agentes públicos corruptos — entre eles, policiais militares e guardas civis municipais — com o crime organizado local e, também, com a maior facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho, considerada a principal rival do Primeiro Comando da Capital (PCC).


Um celular pertencente ao cabo Carlos Alexandre Santos — aprendido em 27 de fevereiro deste ano, mesmo dia em que ele foi preso — ajudou a Polícia Civil paulista a identificar parte da quadrilha liderada pelo policial corrupto, além dos contatos dele no mundo do crime.


A investigação resultou na deflagração da Operação Hitman, no início da semana passada, na qual policiais militares, GCMs e criminosos foram alvo de mandados de prisão e de busca e apreensão.


Ex-pastor e “Senhor das Armas”

A investigação da DIG mostra que a célula criminosa liderada pelo policial Carlos Alexandre presta serviços para o Bando do Magrelo — poderosa organização criminosa local, nascida em Rio Claro — e também para o Comando Vermelho.


Quem faz a ponte entre os criminosos do interior paulista e a maior facção criminosa é Josias Bezerra Menezes, de 41 anos, que já foi pastor evangélico, de acordo com a Polícia Civil.


Também chamado de Oclinhos, ou ainda Pastor — em referência ao passado religioso –, Josias está atualmente foragido, sob a guarda do CV, no Complexo da Maré, área controlada pelo crime organizado no Rio.


O criminoso, integrante do Bando do Magrelo, é o responsável pela venda e envio de armamento pesado para a facção fluminense da qual é aliado, como mostra inquérito da DIG de Limeira, obtido com exclusividade pela reportagem.


Além disso, conforme trocas de mensagens interceptadas pela Polícia Civil, Pastor também determina quem deve morrer, indicando seus alvos para assassinos profissionais, entre eles o PM Carlos Alexandre.


PM da ativa e chefe de quadrilha

As investigações da DIG, que seguem em sigilo, afirmam que o PM Carlos Alexandre dos Santos é o “principal executor e articulador da organização criminosa” aliada ao Bando do Magrelo e, consequentemente, ao CV.


Entre suas condutas, a Polícia Civil destaca homicídios “consumados e tentados”, tráfico de armas e drogas, adulteração de identificadores de veículos, receptação, obstrução da Justiça, corrupção ativa e passiva e roubo de veículos, atribuindo ao PM “a liderança local da organização criminosa armada”.


O policial também agia na linha de frente, ajudando no planejamento e participando de ações para matar rivais e no monitoramento de vítimas, feito por meio do uso de carros clonados.


Para que os veículos “frios” não fossem identificados, ele contava com a ajuda do GCM Denis Davi de Lima.

5 imagens
Ex religioso foi flagrado transportando arsenal escondido em carro para o RJ
Imagem de ficha criminal feita no RJ, após prisão em flagrante
Ex-pastor Josias Bezerra Menezes, de 41 anos, conhecido como "Senhor das Armas"
Criminoso também é conhecido como Oclinhos

GCM alinhado com o crime

Denis, como mostra a investigação, fazia a ponte entre o crime organizado e o sistema institucional. Para isso, usava o acesso que tinha ao Centro de Operações Integradas (COI), no qual apagava registros de veículos clonados, repassava informações estratégicas ao tráfico de drogas e monitorava — a pedido da organização criminosa — servidores públicos considerados “ameaças”.

Denis foi preso na segunda-feira (5/5), em um hotel no Rio Grande do Sul, durante a Operação Hitman.


Nas conversas entre o cabo e o guarda, obtidas com exclusividade pela reportagem, ambos falam sobre como um GCM e um PM honestos, que trabalhavam no COI, estariam atrapalhando a rotina de crimes da quadrilha.

Nas trocas de mensagens, entre ele e o cabo Carlos, fica evidente a relação de ambos em ações criminosos, como homicídios e até no planejamento para um roubo de carga. O guarda, além disso, também recebia propina de membros do PCC — principal rival do Bando do Magrelo — gerando desconfiança. A morte dele chegou a ser conversada entre cabo Marcos e o Senhor das Armas.

As condutas criminosas de Denis, como revelado pelo Metrópoles, tinham a anuência do comandante da GCM de Araras, Daniel Ponessi Alves.


Comando da guarda

De acordo com a Polícia Civil, Daniel Ponessi era informado sobre a circulação de veículos clonados e “ao invés de agir” se limitava a “alertar informalmente os envolvidos”.


“[Ele] também autorizou movimentações de viaturas para favorecer o tráfico [de drogas]”, diz trecho de relatório policial.


O outro guarda investigado é o subinspetor Anilton dos Santos, o Tijolo, que recebia propina da organização criminosa, para garantir a fluidez do tráfico e demais ações da célula que prestava serviços ao CV e ao Bando do Magrelo.


O agora ex-comandante da guarda respondia ao caso em liberdade e o subinspetor estava foragido, até a publicação desta reportagem. A defesa dos três GCMs mencionados neste texto não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

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