Governos de Extrema Direita e o Meio Ambiente: Uma Agenda de Destruição?
Nas últimas décadas, a ascensão de governos de extrema direita em diversos países tem sido acompanhada por um padrão alarmante: políticas que aceleram a degradação ambiental. Do desmatamento desenfreado na Amazônia brasileira ao desmonte de regulamentações climáticas nos Estados Unidos, líderes populistas de direita têm priorizado interesses econômicos de curto prazo em detrimento da sustentabilidade. Mas o que explica essa tendência? Analistas apontam para uma combinação de ideologia antirregulatória, alianças com setores poluentes e uma visão nacionalista que rejeita cooperação global.
Casos Emblemáticos: Do Brasil à Hungria
No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) tornou-se símbolo dessa postura. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelaram um aumento de 75% no desmatamento da Amazônia durante seu mandato, impulsionado por incentivos à grilagem de terras e ao agronegócio. Bolsonaro chegou a acusar ONGs ambientais de "sabotarem" o desenvolvimento nacional, refletindo uma retórica comum entre líderes de extrema direita: a de que a proteção ambiental é um obstáculo ao progresso.
Nos EUA, Donald Trump retirou o país do Acordo de Paris em 2020 e desmantelou mais de 100 normas ambientais, incluindo limites a emissões de usinas termelétricas e proteções a áreas naturais. "Fizemos o que é melhor para a economia", declarou, ignorando alertas científicos sobre mudanças climáticas. Na Hungria, Viktor Orbán enfraqueceu leis de conservação para favorecer megaprojetos aliados, enquanto na Polônia, o partido Lei e Justiça manteve a dependência do carvão, apesar de protestos por direitos ao ar limpo.
Raízes Ideológicas: Antiecologismo e Nacionalismo
Para especialistas, a agenda antiecológica está enraizada em três pilares:
1. Alianças com Setores Poluentes: Governos de extrema direita frequentemente mantêm laços com indústrias extrativistas, como petróleo, mineração e agronegócio. Nos EUA, Trump nomeou lobistas do setor de combustíveis fósseis para cargos-chave na Agência de Proteção Ambiental (EPA).
2. Negacionismo Científico: A rejeição ao consenso climático faz parte de uma estratégia populista que deslegitima instituições internacionais e a ciência. "Há uma narrativa de que ambientalistas são 'globalistas' tentando controlar nações soberanas", explica Clara Mendes, cientista política da Universidade de Lisboa.
3. Nacionalismo Expl explorador: A exploração de recursos naturais é vendida como afirmação de soberania. Bolsonaro, por exemplo, declarou que a Amazônia é "nossa" para ser explorada, ignorando seu papel crítico no equilíbrio climático global.
Impactos Globais e Resistência
As consequências são devastadoras. Segundo a ONU, o mundo está caminhando para um aquecimento de 2,7°C até 2100, cenário agravado por políticas que incentivam emissões. A perda de biodiversidade também ameaça ecossistemas essenciais, como corais e florestas tropicais.
Contudo, a resistência cresce. Na UE, tribunais multaram Hungria e Polônia por violações ambientais. No Brasil, organizações indígenas e ONGs pressionam por demarcações de terras. Jovens ativistas, como Greta Thunberg, destacam a urgência de combater governos que "roubam nosso futuro".
Um Projeto Político Intencional?
Embora defensores desses governos argumentem que buscam "equilíbrio entre economia e ecologia", dados mostram que seus modelos aprofundam crises. Para Adriano Oliveira, pesquisador da Universidade de São Paulo, "não se trata de incompetência, mas de um projeto que vê a natureza como mercadoria". Em um planeta à beira de colapsos climáticos, a pergunta que fica é: até quando a destruição será tolerada em nome do poder?
Este artigo contou com a colaboração de cientistas políticos e ambientalistas. Dados foram atualizados em 19/04/2025.
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