Coincidência ou Estratégia? As Cirurgias de Bolsonaro em Momentos de Crise Política
Críticos apontam padrão questionável; aliados defendem necessidade médica
Desde que emergiu no cenário político nacional, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) coleciona não apenas polêmicas, mas também cirurgias que, curiosamente, coincidem com momentos de turbulência em sua trajetória. Críticos e analistas políticos destacam um padrão recorrente: toda vez que as pressões aumentam, Bolsonaro anuncia intervenções médicas. O fenômeno, classificado por adversários como "cinismo estratégico", levanta debates sobre a interseção entre saúde e estratégia de comunicação.
2018: A Facada que Alavancou a Campanha
O primeiro caso emblemático ocorreu durante a campanha presidencial de 2018. Em setembro, Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora (MG), evento que exigiu múltiplas cirurgias e o manteve hospitalizado por semanas. Enquanto a equipe médica lidava com complicações intestinais, sua ausência nos debates foi compensada por uma narrativa de "sobrevivente", catalisando apoio popular. Para muitos, o incidente, embora genuíno, foi pivotal em transformá-lo em símbolo de resistência, alavancando sua vitória.
2020: Pandemia e Desvio de Atenção
Em julho de 2020, no auge das críticas à gestão da COVID-19 — marcada por declarações negacionistas e investigações sobre a compra de vacinas —, Bolsonaro anunciou uma cirurgia para corrigir uma hérnia abdominal. O procedimento ocorreu em meio a protestos por impeachment e denúncias de corrupção no Ministério da Saúde. Enquanto o país registrava milhares de mortes diárias, o foco da mídia se dividiu entre a crise sanitária e o centro cirúrgico.
2022: Eleições e Implantes Dentários
Nas vésperas do segundo turno das eleições de 2022, com pesquisas apontando derrota para Lula, Bolsonaro submeteu-se a uma cirurgia odontológica para colocar implantes. A justificativa médica foi uma infecção, mas o timing gerou suspeitas. Na semana seguinte, Lula venceu por estreita margem, e o ex-presidente, ainda em recuperação, evitou debates pós-eleitorais.
2023: Pós-Derrota e Nova Intervenção
Após a eleição, em janeiro de 2023, Bolsonaro foi hospitalizado nos EUA por uma obstrução intestinal, dias após a posse de Lula e no contexto de investigações sobre supostos golpistas em seu entorno. A imagem do ex-presidente frágil contrastou com vídeos de apoiadores invadindo sedes dos Três Poderes em Brasília.
Análise: Saúde como Palco Político
Para cientistas políticos, o uso de crises de saúde para manipular narrativas não é inédito, mas a frequência em Bolsonaro chama atenção. "Há um padrão de usar o corpo como escudo simbólico. Pesquisas do Datafolha em 2023 revelaram que 58% dos brasileiros enxergam suas internações como "manobra de distração".
Já a equipe de Bolsonaro nega veementemente as acusações. "São procedimentos necessários, muitos decorrentes do atentado de 2018.
Cenário Atual: Cinismo e Polarização
Seja coincidência ou cálculo, o legado inclui um debate sobre ética na exposição da vida privada. Bolsonaro elevou o cinismo a uma arte, usando até a própria saúde para cultuar a imagem de mito perseguido. Enquanto isso, o Brasil segue dividido entre os que veem vítima e os que enxergam artifício.
O que vem pela frente? Com processos judiciais em andamento — incluindo investigações sobre fake news e atos golpistas —, especula-se se novas crises de saúde surgirão. Uma coisa é certa: cada hospitalização continuará a alimentar a polarização que marca o país.
Comentários
Postar um comentário