Maior revista de tecnologia dos EUA afirma que Musk representa ameaça à segurança nacional.
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DCM- Logo após os relatos de uma aparente segunda tentativa de assassinato contra Donald Trump, o ex-presidente dos EUA e candidato republicano à presidência em 2024, Elon Musk resolveu se manifestar.
“E ninguém nem está tentando assassinar Biden/Kamala ”, escreveu Musk, dono do X, em uma postagem que já foi deletada, em resposta a outra pessoa que perguntou: “Por que querem matar Donald Trump?”
Depois de apagar a postagem — que poderia ser interpretada como uma incitação ao assassinato do presidente Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris, adversários democratas de Trump na eleição presidencial —, Musk afirmou que era apenas uma piada que não foi bem recebida, dadas as circunstâncias.
“Bem, uma lição que aprendi é que só porque eu digo algo para um grupo e eles riem, não significa que isso vai ser tão engraçado como uma postagem no 𝕏”, escreveu o bilionário, acrescentando: “Acontece que piadas são MUITO menos engraçadas se as pessoas não conhecem o contexto e a entrega é em texto puro.”
Esse incidente foi apenas o mais recente de uma série de postagens políticas cada vez mais inflamadas de Musk, cujos importantes contratos de defesa com o governo dos EUA podem dar a ele acesso a informações altamente sigilosas, mesmo enquanto faz declarações que podem ser vistas como ameaças ao presidente em exercício. E isso aponta para o risco mais imediato da retórica recente de Musk: o potencial de incitar mais violência política.
Embora a postagem de domingo à noite tenha sido apagada, é provável que Musk possa atrair a atenção das autoridades federais, caso isso ainda não tenha ocorrido.
O Serviço Secreto dos Estados Unidos recusou-se a comentar a postagem de Musk à Wired. “Podemos dizer, no entanto, que o Serviço Secreto investiga todas as ameaças relacionadas aos nossos protegidos”, disse Nate Herring, porta-voz do USSS.
“Na minha experiência, o Serviço Secreto levaria esse tipo de comentário muito a sério”, diz Michael German, ex-agente especial do FBI e pesquisador especializado em liberdade e segurança nacional no Centro Brennan para a Justiça da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York. “Normalmente, os agentes iriam entrevistar o indivíduo para garantir que não houvesse uma ameaça real e para deixar claro que a agência leva tais declarações muito a sério.”
German observa que o FBI também pode abrir uma investigação, embora seja improvável que Musk enfrente acusações por sua postagem. “À primeira vista, o tweet não cumpriria o critério de ‘ameaça verdadeira’, já que não foi uma ameaça direta de causar dano à vice-presidente, então provavelmente não resultaria em processo”, afirma German. Mesmo assim, “isso criaria um registro das investigações.”
O FBI também recusou-se a comentar o post de Musk. O X não respondeu imediatamente ao pedido de comentário da revista.
Tanto Biden quanto Harris emitiram declarações condenando a aparente tentativa de assassinato contra Trump e a violência política de forma geral. Em uma declaração à ABC News, a Casa Branca criticou a postagem de Musk. “A violência deve ser apenas condenada, nunca encorajada ou tratada como piada”, diz o comunicado. “Essa retórica é irresponsável.”
Onde a situação fica mais complicada para Musk é em seu papel como grande contratante do Departamento de Defesa dos EUA e da NASA. De acordo com a Reuters, a SpaceX assinou um contrato de US$ 1,8 bilhão em 2021 com o Escritório Nacional de Reconhecimento, que supervisiona os satélites espiões dos EUA.
A Força Espacial dos EUA também fechou um contrato de US$ 70 milhões com a SpaceX no final do ano passado para expandir as capacidades militares de satélites de órbita baixa. O Starlink, braço comercial de internet via satélite da SpaceX, está fornecendo conectividade à Marinha dos EUA.
A NASA, por sua vez, terceirizou cada vez mais seus projetos de exploração espacial para a SpaceX, incluindo bilhões de dólares em contratos para múltiplas viagens à lua e um contrato de US$ 843 milhões para construir o veículo que irá aposentar a Estação Espacial Internacional.
A forte dependência do governo dos EUA nas empresas controladas por Musk tem gerado repetidas preocupações entre especialistas em segurança nacional. Essas preocupações ficaram ainda mais evidentes em setembro passado, depois que Musk recusou o pedido da Ucrânia para ativar o Starlink na Crimeia, um território disputado que faz fronteira com a Rússia, para que pudessem lançar um ataque contra tropas russas.
(O Starlink não estava sob contrato militar quando ele recusou o pedido.) Em resposta a reportagens anteriores da revista americana, Musk afirmou que “o Starlink estava proibido de ativar os feixes de satélite na Crimeia naquela época, porque isso violaria as sanções dos EUA contra a Rússia!”Nem o Departamento de Defesa nem a NASA responderam aos pedidos de comentários.
Até mesmo a aquisição do Twitter (agora X) por Musk, em outubro de 2022, levantou preocupações de especialistas sobre os riscos à segurança nacional que isso poderia representar para os EUA, considerando seu relacionamento comercial e comunicações com o governo chinês, seu suposto contato com o presidente russo Vladimir Putin (que Musk negou), e o contínuo investimento da Arábia Saudita no Twitter após a compra de Musk.
Outros levantaram preocupações de que a China poderia ter influência sobre Musk, devido a suas relações com Pequim relacionadas à Tesla, sua empresa de carros elétricos que possui uma fábrica em Xangai. E tudo isso antes de Musk — um cidadão da África do Sul, Canadá e EUA — reativar as contas de teóricos da conspiração e nacionalistas brancos, e começar a promover fortemente sua própria narrativa política de direita.
Logo após a primeira tentativa de assassinato contra Trump, em meados de julho, Musk endossou Trump e supostamente prometeu US$ 45 milhões por mês para apoiar um comitê de ação política pró-Trump, uma promessa de financiamento que ele disse não ter feito.
A postagem de Musk na noite de domingo, que foi deletada, complica ainda mais a situação. O CEO supostamente possui uma autorização de segurança, dada a participação de suas empresas em projetos confidenciais do governo dos EUA.
Embora haja várias regras para quem obtém autorização de segurança, como a abstenção do uso de cannabis, essa designação é concedida e mantida com base em uma avaliação de risco versus recompensa para o governo dos EUA. Considerando que Musk é talvez o homem mais rico do mundo e o CEO mais famoso, pode ser complicado revogar sua autorização de segurança, independentemente de suas discussões despreocupadas sobre assassinatos políticos.
“É aqui que o status de Musk pode ter um impacto maior”, diz German, do Centro Brennan. “Seria difícil para os gerentes revogar a autorização de segurança de alguém em uma posição de poder, enquanto seria esperado que tomassem medidas rápidas contra um funcionário comum que se envolvesse em uma conduta semelhante.”
O aspecto mais preocupante da postagem de Musk é o seu potencial para inflamar ainda mais as ameaças extremistas nos EUA, diz Jon Lewis, pesquisador do Programa de Extremismo da Universidade George Washington, que classifica a postagem como “apenas mais um exemplo de incitação da extrema-direita que se tornou preocupantemente comum nos últimos anos.”
“O fato de o proprietário de uma grande plataforma de mídia social — e contratante do governo dos EUA — estar comentando sobre o assassinato de adversários políticos deve ser alarmante para os americanos de todo o espectro político”, afirma Lewis.
Ele alerta que “narrativas de guerra cultural e racismo disfarçado” já tiveram efeitos no mundo real, que poderiam ser exacerbados pela disposição da extrema-direita em atender aos chamados para a violência.
“Esses extremistas estão esperando uma justificativa para se envolverem em violência”, diz ele, “e retóricas como essa fornecem a desculpa perfeita.”
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